Por Lauro José Jantsch - Em 2004
De vez em quando se houve falar que a Reforma Universitária está na fase final. Por outro lado, pouco vaza além da discussão demagógica das quotas.
Já foi dito que a reforma da universidade brasileira é a “Mãe das Reformas”. Os próprios alunos dizem: “Enquanto não se fizer a reforma da universidade o Brasil não mudará”.
Quando se discute a universidade com pessoas isentas de corporativismo, alunos, ex-alunos, professores e ex-professores, surge outra unanimidade: o setor brasileiro menos democrático é a universidade. Para quem desconhece a universidade isto é espantoso mas, para os demais, inclusive os corporativistas, esta é a pura realidade.
Sendo assim, este é o primeiro aspecto a reformar.
A democracia deve nortear dois aspectos básicos da universidade: a gestão e o processo ensino-aprendizagem.
É constrangedor o professor ter que explicar todos os semestres aos alunos questões como: o que é o grão-chanceler da universidade, quem elege o Reitor, por que os alunos e professores não participam da eleição dos Diretores? O planejamento estratégico não poderia receber participação dos alunos? A previsão orçamentária e a prestação de contas não deveria estar à disposição da comunidade universitária? O processo da escolha e demissão de professores não deveria ser mais transparente obedecendo a critérios técnicos?
O segundo setor da universidade a ser democratizado é o processo ensino-aprendizagem. A montagem e a atualização dos currículos não pode prescindir da participação ampla, inclusive dos alunos. O calendário escolar e os cronogramas de aulas podem receber sugestões dos alunos. A metodologia de ensino não pode ser imposta, mas deve ser fruto de troca de idéias com os alunos. E os critérios de avaliação? Por que não discuti-los com os alunos? Num processo de ensino-aprendizagem democrático o aluno tem acesso à correção das provas para expor seus argumentos. Enfim, o mais importante, na sala de aula, é a atitude do professor, é o ambiente participativo criado por ele.
Atitude democrática, por exemplo, é apresentar as várias teorias sobre um fato e não apenas uma. E dizer que a sala de aula de uma universidade, recentemente, ouviu a seguinte frase de um professor a um aluno que lhe fizera uma pergunta:”Cala a boca, na minha aula aluno não fala!” Este aluno, para poder se formar, passou o último semestre sem abrir a boca na sala de aula. Esta é a melhor maneira de formar cidadãos omissos. Isto é a antítese de universidade.
Portanto, o primeiro passo para reformar a universidade é torná-la democrática. Desta forma deixaremos de ter uma universidade que só não é omissa na fabricação de diplomas para termos uma universidade formadora de cidadãos.
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